Polo de empresas digitais localizado fora do eixo Rio-São Paulo, essa região de BH gera riquezas e empregos na área de tecnologia. Conhecido no exterior como San Pedro Valley, ele agora começa a atrair startups estrangeiras.
No mês passado, foi inaugurado em Belo Horizonte o Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development (Seed), um escritório compartilhado de 900 metros quadrados que vai reunir 40 novas empresas, ou startups, nacionais e estrangeiras cujos projetos foram escolhidos pelo governo de Minas Gerais.
Os empreendedores selecionados — vindos de seis países e sete estados brasileiros — vão receber até 80.000 reais para tirar suas ideias do papel, além de receber mentorias de especialistas em negócios da Universidade Federal de Minas Gerais e de empresários como Gustavo Caetano, fundador da Sambatech, plataforma de distribuição de vídeos online.
Essas novas empresas vão se juntar a um conjunto de outras 117 startups que, desde 2011, começaram a se instalar no tradicional bairro de São Pedro, e em seus arredores, no centro-sul da capital mineira.
Minas Gerais entrou no radar dos investidores de tecnologia quando, em 2005, o Google comprou a Akwan, startup que desenvolve sistemas de busca, fundada por professores da Universidade Federal de Minas Gerais.
Desde então, o cenário tecnológico vem mudando bastante na região. Só Belo Horizonte abriga hoje mais de 120 startups, mais que o triplo de dois anos atrás. A tendência é que esse número aumente exponencialmente nos próximos anos, principalmente em São Pedro, que vem concentrando os jovens empreendedores por seus preços razoáveis de aluguel de escritórios.
A aglomeração de startups no bairro rendeu ao local o apelido de San Pedro Valley, numa referência ao americano Silicon Valley — ou Vale do Silício, em português — região da Califórnia apinhada de empresas de tecnologia como Google, Facebook e Apple.
O apelido tem sua origem numa brincadeira dos empresários Bernardo Porto, de 26 anos, fundador da Deskmetrics, empresa de análise de tráfego online, e Edmar Ferreira, de 28, hoje sócio da Rock Content, que desenvolve conteúdo para marketing em meios digitais.
Como volta e meia esbarravam com outros sócios de startups num sacolão da rua Major Lopes, do bairro São Pedro, e em outros estabelecimentos da região, um deles comentou que o local estava parecendo o Silicon Valley. “Aqui é o San Pedro Valley”, respondeu o outro.
Os dois riram, e foi o que bastou. O nome engraçadinho começou a ser repetido em redes sociais na forma de hashtag, sobretudo quando uma das empresas ganhava algum prêmio ou recebia investimentos.
Com os prêmios, veio a divulgação do nome San Pedro Valley nos blogs internacionais de tecnologia, e o local começou a atrair cada vez mais empreendedores. Em abril do ano passado, foi a vez de a revista americana The Economist escrever sobre o polo de startups localizado fora do eixo Rio-São Paulo.
“O crescimento aconteceu de forma orgânica e muito rápida. Acabou ultrapassando os limites do bairro. Hoje, San Pedro Valley é essa comunidade digital superengajada”, diz Diego Gomes, de 28 anos, criador da Rock Content, que já captou cerca de 500.000 reais de investidores.
Com o dinheiro, a startup cresceu e a salinha em São Pedro ficou pequena para os 16 funcionários atuais (e outros quatro que eles pretendem contratar em breve). A solução foi ir para um bairro vizinho. Mas eles continuam vendo São Pedro da janela e frequentando, entre outros eventos, o San Pedro Cervas — happy hour regada a cerveja e cachaça, bem à moda mineira.
“Como a comunidade ficou grande demais, temos um grupo no WhatsApp (serviço de mensagens pela internet para celular) em que conversamos sobre tudo: desde o contato de alguém que pode ajudar com um trabalho até procurar comprador para uma cadeira”, explica Bernardo Porto.
A grande maioria das startups que formam San Pedro Valley ainda está no começo da vida, com uma média de dois anos desde sua fundação e menos de três funcionários.
Embora ainda não seja possível prever o volume de negócios e empregos que o Vale do Silício mineiro pode gerar, o governo estadual está investindo no potencial dos jovens de São Pedro por meio do Seed, coordenado pelo Escritório de Prioridades Estratégicas.
“Queremos transformar Minas Gerais em referência de empreendedorismo. Por isso, é importante que haja essa interação com outros estados e países”, diz André Barrence, diretor-presidente do Escritório. Para tanto, 15 milhões de reais serão investidos até o fim deste ano no programa.
A Beved, plataforma de aulas online, foi uma das selecionadas para ser benefciada pela iniciativa. Seu fundador, Matt Montenegro, de 27 anos, já está no segundo empreendimento e é um dos administradores do site de San Pedro Valley. “BH sempre foi conhecida como a capital do boteco. Agora vai ser a capital das startups também”, brinca.
Mas ele pode ter razão. Neste mês, o Seed abre o processo para selecionar mais 40 empresas ou boas ideias, já que não é necessário ter CNPJ para participar. Para os empreendedores e os tecnólogos de fora de Belo Horizonte, pode ser o momento de fazer as malas e focar na dieta para resistir às delícias da culinária mineira.
Fonte: Portal Exame